30 de nov. de 2011

Sobre o papel do mestre




"Um guru não é alguém que tem seguidores. Um guru é alguém que pode mostrar o caminho. Vamos supor que eu esteja numa floresta e, por alguma razão, tenha me perdido. Então, encontro alguém e peço:  " Por favor, mostre-me o caminho de volta pra casa". A pessoa diria: " Sim, vá para este  lado”.  Eu respondo: “ Muito obrigado”, e sigo o caminho.  Aquele indivíduo foi um guru.
Há uma imagem no mundo hoje de que o guru tem seus adeptos que o seguem, como se ele fosse o Flautista de Hamelin. Isso não é bom. O verdadeiro guru é o que lhe mostra o caminho. Você segue o caminho, e então vai sozinho, por sua conta, porque você conhece a sua casa e você é grato. Posso sempre agradecer meu guru naturalmente e apreciar a relação com ele, mas não preciso segui-lo, porque senão não estaria um meu próprio lugar. Seguir o caminho do guru é uma outra forma de perder a si próprio.”
T. K. V. Desikachar

20 de jun. de 2011

Inspiração para sempre

 
 
" O que eu entendo por amor aparece no reconhecimento claro da existência da outra pessoa, e num autêntico respeito pelo bem estar e pelo direito dos outros. ... O caminho mais razoável para amar os outros está no reconhecimento do simples fato de que cada ser vivo tem o mesmo direito e o mesmo desejo de alcançar a felicidade e de não sofrer." 
 Dalai Lama

28 de abr. de 2011

É a água que garante o milagre da flor


10 anos atrás, eu estava no primeiro ano de faculdade e resolvi fazer terapia. A história durou pouco mais de um ano e meio, porém uma experiência me marcou tanto que foi um orientador na minha vida por muito tempo: meu terapeuta levou pra mim um vaso com terra e alguns saquinhos de sementes. Disse que eu deveria escolher um tipo de semente para plantar uma flor. Nos saquinhos haviam fotos das plantas já grandes, e escolhi a que a mim parecia mais bonita, flores alegres e vivas. Mexi na terra, espalhei as sementes, reguei. A idéia é que a cada sessão semanal, eu molharia o vaso e veria o desenvolvimento da planta.


No início, tudo correu bem. Logo na primeira semana, nasceram os primeiros brotinhos. Eu os recebi com entusiasmo, imaginando aquela linda flor que eu havia visto na foto. Na semana seguinte, eles estavam maiores. Reguei, com grandes expectativas. Na terceira semana, cheguei contente esperando ver minha plantinha crescendo, e tudo que havia era um vaso com terra e alguns brotinhos secos. Isso serviu de tema pra meses de terapia e mais alguns anos sem ela.

A conclusão foi que, todo o tempo, eu cuidei da plantinha não curtindo o desenvolvimento dela, gradual e único, mas esperando aquela flor da foto do saquinho. Não conseguia ver o broto, somente a flor, que ainda não existia. Por isso ela não vingou. Assim eu era também na vida: trabalho, estudos, relacionamentos... vivia no mundo das fotos dos saquinhos que eu mesma projetava cada vez que iniciava algo novo. Tinha grandes filmes acontecendo na minha cabeça, e pouco acontecendo na vida real.

Há alguns meses, uma amiga me fez a seguinte pergunta: o que você acha, objetivamente, que o yoga mudou na sua vida? E pra mim a resposta foi clara: me ensinou a deixar de lado as minhas expectativas, e a viver mais cada momento. Hoje, sem dúvida, eu me sinto muito mais capaz de curtir os brotinhos, sem ficar imaginando a flor. E posso dizer que tenho vivido flores maravilhosas, porque tive paciência de esperar o brotinho crescer, regando e adubando o tempo todo.

Essa semana, as plantas me trouxeram outro insight valioso: há pouco tempo mudamos o jardim do nosso Espaço Tripé, onde dou aulas de yoga, e isso me animou tanto que tenho cuidado dele com um carinho que nunca tive antes. Em um dos vasos, a planta que estava lá anteriormente insiste em brotar, atrapalhando o desenvolvimento das novas margaridinhas amarelas. Todos os dias dou uma olhada para ver se não há novos brotos da planta antiga, e tiro as que eu encontro. E, muitas vezes, me dá uma certa pena arrancá-lo assim, pobrezinho!

Percebi então o quando isso é simbólico para o momento em que vivo hoje. Tem muita coisa mudando na minha vida. E para aceitar o novo e ver ele se desenvolver, até virar uma planta grande e vistosa, é preciso, muitas vezes, abandonar o velho. Mais isso não é tão simples, porque muitas vezes o velho não quer ir embora. O tempo todo nascem brotinhos indesejados que atrapalham o desenvolvimento do que está no presente, e dá uma certa pena arrancá-los e jogá-los fora, afinal, eles já fizeram parte de nós. Mas se não fizermos isso, em vez de uma planta grande e vistosa teremos um vaso vazio, pois um broto atrapalhará o outro e nenhum vingará. A boa noticia é que tenho conseguido manter o hábito de arrancar as praguinhas desde a raiz, lá no jardim. Espero conseguir também na vida.

Bem yogue isso, não?

Namaste!

16 de fev. de 2011

Nada é permanente


Outro dia uma aluna, que na semana anterior chegou à aula queixando-se de muita dor, me falou o seguinte: “É muito bom quando a dor passa. É ótimo quando percebemos que ela não vai ficar para sempre.” Ela vinha de uma semana difícil, com uma porção de coisas acumuladas que geraram dores no corpo, insônia, entre outros. Nessa semana recebi um email de outra aluna explicando sua ausência nas últimas aulas, com uma lista de questões físicas e emocionais que lhe tem tirado o sono. Na mesma hora me veio à mente a frase acima. Respondi dando uma série de sugestões de coisas que ela poderia fazer em casa, e terminei dizendo que o mais importante era ela perceber que, por mais difícil que estivesse sendo, era apenas uma fase, e que, portanto, passaria.


Esse tema me fez lembrar um dos maiores ensinamentos que ouvi quando fiz o retiro de meditação Vipassana: o princípio da impermanência. Nada é permanente, pois tudo está constantemente em processo de mutação. Logo, não devemos ter aversão às sensações ruins que possam surgir, pois elas também passarão.

Quando temos algum problema, a tendência é focarmos a nossa atenção nele, seja para achar alguma solução, seja porque simplesmente nossa mente gosta de problemas, é uma linda forma de “estar por cima”. Porém, quando compreendemos que “até isso passará”, seja o que for, a coisa deixa de ter tanta importância. E, consequentemente, passa mais rápido. Se aquela minha aluna tivesse dado menos importância ao seu estado naquele momento, provavelmente o problema teria sido menor. E talvez ela nem tivesse ficado tão feliz quando ele passou.

Tudo passa: dor, tristeza, angústia, decepção... Até as alegrias são impermanentes. Estão, para que sofrer tanto por elas? “ah, até parece que é assim tão simples!” É simples sim! E por isso é tão difícil!

Escrevi esse texto algumas semanas atrás, e não postei porque faltou escrever sobre a experiência que tive, coincidentemente, no dia seguinte. Estava na praia, e na volta, tive a felicidade de pegar um trânsito de 5 horas pra voltar a São Paulo, num caminho que normalmente seria feito em duas horas e meia. Foi difícil, com certeza. Mas foi muito menos difícil do que poderia ter sido se eu e meu namorado tivéssemos nos estressado com a situação. Nossa escolha foi o silêncio. Porque nessas horas, é como se estivéssemos numa TPM turbo: qualquer coisa vira motivo para discussão. Ficamos algumas horas trocando pouquíssimas palavras, simplesmente esperando que em algum momento chegaríamos em casa. E quando chegamos (sim, chegamos, a situação chegou ao fim!), minha sensação era de gratidão por termos sido, através do silêncio e da espera, tão companheiros um do outro.

Terminando, deixo aqui uma frase que gosto muito, já ouvi algumas vezes como um provérbio indiano e já até postei no blog:

“ Se o problema tem solução, então não há porque se preocupar. Se o problema não tem solução, então não há também porque se preocupar.”

Namaste!