28 de abr. de 2011

É a água que garante o milagre da flor


10 anos atrás, eu estava no primeiro ano de faculdade e resolvi fazer terapia. A história durou pouco mais de um ano e meio, porém uma experiência me marcou tanto que foi um orientador na minha vida por muito tempo: meu terapeuta levou pra mim um vaso com terra e alguns saquinhos de sementes. Disse que eu deveria escolher um tipo de semente para plantar uma flor. Nos saquinhos haviam fotos das plantas já grandes, e escolhi a que a mim parecia mais bonita, flores alegres e vivas. Mexi na terra, espalhei as sementes, reguei. A idéia é que a cada sessão semanal, eu molharia o vaso e veria o desenvolvimento da planta.


No início, tudo correu bem. Logo na primeira semana, nasceram os primeiros brotinhos. Eu os recebi com entusiasmo, imaginando aquela linda flor que eu havia visto na foto. Na semana seguinte, eles estavam maiores. Reguei, com grandes expectativas. Na terceira semana, cheguei contente esperando ver minha plantinha crescendo, e tudo que havia era um vaso com terra e alguns brotinhos secos. Isso serviu de tema pra meses de terapia e mais alguns anos sem ela.

A conclusão foi que, todo o tempo, eu cuidei da plantinha não curtindo o desenvolvimento dela, gradual e único, mas esperando aquela flor da foto do saquinho. Não conseguia ver o broto, somente a flor, que ainda não existia. Por isso ela não vingou. Assim eu era também na vida: trabalho, estudos, relacionamentos... vivia no mundo das fotos dos saquinhos que eu mesma projetava cada vez que iniciava algo novo. Tinha grandes filmes acontecendo na minha cabeça, e pouco acontecendo na vida real.

Há alguns meses, uma amiga me fez a seguinte pergunta: o que você acha, objetivamente, que o yoga mudou na sua vida? E pra mim a resposta foi clara: me ensinou a deixar de lado as minhas expectativas, e a viver mais cada momento. Hoje, sem dúvida, eu me sinto muito mais capaz de curtir os brotinhos, sem ficar imaginando a flor. E posso dizer que tenho vivido flores maravilhosas, porque tive paciência de esperar o brotinho crescer, regando e adubando o tempo todo.

Essa semana, as plantas me trouxeram outro insight valioso: há pouco tempo mudamos o jardim do nosso Espaço Tripé, onde dou aulas de yoga, e isso me animou tanto que tenho cuidado dele com um carinho que nunca tive antes. Em um dos vasos, a planta que estava lá anteriormente insiste em brotar, atrapalhando o desenvolvimento das novas margaridinhas amarelas. Todos os dias dou uma olhada para ver se não há novos brotos da planta antiga, e tiro as que eu encontro. E, muitas vezes, me dá uma certa pena arrancá-lo assim, pobrezinho!

Percebi então o quando isso é simbólico para o momento em que vivo hoje. Tem muita coisa mudando na minha vida. E para aceitar o novo e ver ele se desenvolver, até virar uma planta grande e vistosa, é preciso, muitas vezes, abandonar o velho. Mais isso não é tão simples, porque muitas vezes o velho não quer ir embora. O tempo todo nascem brotinhos indesejados que atrapalham o desenvolvimento do que está no presente, e dá uma certa pena arrancá-los e jogá-los fora, afinal, eles já fizeram parte de nós. Mas se não fizermos isso, em vez de uma planta grande e vistosa teremos um vaso vazio, pois um broto atrapalhará o outro e nenhum vingará. A boa noticia é que tenho conseguido manter o hábito de arrancar as praguinhas desde a raiz, lá no jardim. Espero conseguir também na vida.

Bem yogue isso, não?

Namaste!